Era setembro de 1929. A jovem capital mineira caminhava para seus 31 anos em pleno período de turbulência internacional, com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque que levou à décadas de recessão em todo o planeta. Entre casarões, prédios de detalhes neoclássicos e as curvas da Serra do Curral, a cidade crescia e chegava aos 47 mil habitantes. Para além dos limites da avenida do Contorno, ainda imperava a vida rural nas fazendas, lavouras e vilarejos como Venda Nova. Mas junto com a tranquilidade da pacata Belo Horizonte, começam a surgir os problemas urbanos. Sem uma grande central, os
mercados e feiras da cidade passavam por dificuldades de abastecimento. É quando o prefeito Cristiano Machado resolve reunir, em um só local, todos os produtos que vão parar na mesa dos
belo-horizontinos: frutas, legumes, ovos, carnes, doces e queijos.
A poucos metros da praça Raul Soares, no coração de BH, um terreno de 22 lotes era escolhido para abrigar o empreendimento: nascia o Mercado Municipal. Cercado pelas ruas e avenidas planejadas por Aarão Reis, o mercado era a céu aberto e as barracas de madeira se enfileira
enfileravam para disputar a preferência do freguês. De vez em quando, uma galinha ou outra fugia do viveiro e a chuva carregava lama, mas nada que os feirantes não pudessem resolver.
“Era uma coisa de louco”, brincou Vicente Henrique, que trabalha no mercado desde 1964. Nos bondes, viajantes, comerciantes e donas de casa desciam de todas as partes da cidade e até do estado para fazer as compras do mês, encontrar amigos e sentir os cheiros e aromas da culinária.
No lado de fora, charretes, animais e carroças que traziam
todo tipo de variedade e iguaria mineira se aglomeravam entre
a Goitacazes e a Amazonas e formavam o curral da serra. “Era
cavalo e boi para todo lado. Naquela época as mercadorias chegavam aqui e as feirantes e produtores vinham buscar. Por isso que tinha tanta carroça, era gente demais”, recordou Vicente.
Só que no fim de 1964, o então Mercado Municipal se viu em risco por uma decisão do prefeito Jorge Carone: sem recursos para administrar e organizar o local, o político resolveu vender o terreno. É quando funcionários e comerciantes decidem se organizar para manter viva a
tradição do espaço. Juntos, conseguem fundar uma cooperativa, reunir recursos e comprar o imóvel da prefeitura. Porém, existia uma condição: teriam que cercar a área e construir um galpão coberto em até cinco anos. Praticamente no fim do prazo, ainda não havia paredes e só com a ajuda de três irmãos empreendedores – Osvaldo, Vicente e Milton de Araújo – a atual estrutura foi finalmente entregue. Saia de cena o Mercado Municipal e surgia outro, ainda mais imponente: o Mercado Central, que amanhã completa 90 anos de história e transformações.