Quem é o líder da greve contra as “três gigantes de Detroit”?

Paralisação das montadoras GM, Ford e Stellantis teve início na sexta-feira. Trabalhadores pedem melhores salários e garantias na transição para veículos elétricos. EUA: três principais montadoras americanas enfrentam greve simultânea (Emily Elconin/Bloomberg/Getty Images).

Liderados por Shawn Fain, trabalhadores das três principais montadoras americanas — General Motors, Ford e Stellantis, que controla a Chrysler — iniciaram a primeira greve simultânea da História dos Estados Unidos. O presidente do sindicato United Auto Works (UAW), um entusiasta das redes sociais, escolheu um caminho mais ousado que seus antecessores e uma nova estratégia para conseguir melhores salários e outros benefícios.

Sua estratégia foi parar três fábricas de diferentes montadoras ao mesmo tempo — o habitual era centrar esforços em uma empresa de cada vez.

“Esta noite, pela primeira vez em nossa história, faremos greve em todas as Três Grandes ao mesmo tempo”, disse Fain no fim da noite de quinta-feira. “Essa estratégia dará a nossos negociadores nacionais eficiência e flexibilidade máximas nas discussões. E se for preciso que todos parem, vamos parar.”

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As negociações de novos acordos coletivos entre o sindicato e as montadoras começaram há dois meses. O UAW demanda aumento salarial de 36% em quatro anos. A proposta das Três Grandes não ultrapassou 20%, segundo Fain.

No entanto, mais do que salários, os sindicalistas buscam garantias de que os trabalhadores não perderão espaço com a transição da indústria para a produção de veículos elétricos, impulsionada pelo governo americano. Segundo estimativas do setor, a nova tecnologia exige 30% menos mão de obra.

Tradição familiar

O atual líder do UAW foi o primeiro a ser escolhido de forma direta. A conquista pelo cargo não veio de forma unânime, mas sim por uma margem apertada.

Desde o dia da sua posse, em 26 de março deste ano, o presidente do UAW chama atenção por seu espírito combativo, já conhecido pelos membros do sindicato. Antes de se tornar líder dos quase 150 mil trabalhadores, Fain ocupou vários cargos no UAW, do qual faz parte há 29 anos.

Em 2007, Fain foi contra o acordo coletivo que implementava níveis e cortava à metade os salários dos trabalhadores. Ele também se posicionou contra a ociosidade e o fechamento de fábricas. Muitas vezes, nas reuniões do conselho do UAW, ele acabava isolado por se manifestar contra os acordos.

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A dedicação de Fain ao sindicato vem de família: seus avós, hoje aposentados, foram membros. De acordo com a Reuters, ele mantém em sua carteira os recibos das contribuições sindicais do seu avô.

De versículos a gráficos

Em abordagens pouco convencionais, o líder sindical chegou a realizar o que a Reuters chamou de “leilão público” para incentivar as montadoras a superarem uma a outra e evitar a paralisação. Diferentemente dele, seus antecessores escolhiam uma fábrica para estabelecer um padrão para as outras.

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Na luta sindical, Fain passou a aparecer nas redes sociais e em programas de TV. Além disso, fez aliança com políticos, como o senador americano Bernie Sanders.

Fain refuta as preocupações das montadoras relacionadas aos custos trabalhistas: para ele, as empresas só se preocupam com apenas os investidores.

“Sempre há dinheiro para outra recompra de ações,” disse ele à Bloomberg. “Eles dizem que não podem prover uma aposentadoria digna, mas sempre há um dividendo especial para Wall Street.”

Nas redes sociais, Fain já citou versículos bíblicos e usou gráficos para analisar salários. Em uma de suas lives vestiu uma camisa com a citação de Malcom X, que foi um dos principais líderes do movimento de direitos civis nos EUA no início dos anos 1960. Para incentivar os trabalhadores, na quarta-feira, ele mais uma vez mencionou Malcom X, dizendo que era preciso lutar por um contrato melhor “por todos os meios necessários”.

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