Por Eduardo Alvim
Warren Buffett, renomado investidor com um histórico de sucesso impressionante, fundamenta suas estratégias de investimento em princípios sólidos. Sua abordagem consiste em identificar o valor intrínseco das empresas, optando por investimentos de longo prazo e encontrando uma margem de segurança nos preços das ações. Além disso, ele prioriza empresas com vantagens competitivas duradouras, lideradas por gestores competentes, evitando cair na influência da chamada “síndrome do mercado” como os movimentos em manada e sem critério. A busca constante por conhecimento também desempenha um papel essencial em sua abordagem de investimento. Esses princípios estabeleceram a base do seu sucesso e são considerados valiosos para investidores em busca de resultados consistentes.
Hoje, os fundamentos que outrora serviram de inspiração para investidores ao redor do mundo e fizeram muitas pessoas comuns construírem suas fortunas foram completamente quebrados pela elite financeira global. O Fórum Econômico Mundial, em 2021, já dava dicas, através de importantes players como Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de fundos de investimentos do mundo, líderes de estados, como Angela Merkel e Emmanuel Macron, sobre como a economia deve se mover para um modelo baseado no interesse dos stakeholders, e não dos shareholders, no que chamaram de “capitalismo consciente”. Não são os acionistas que devem tomar as decisões, ou seja, aqueles que possuem ações da empresa, mas sim as pessoas que têm interesse e são afetadas pela empresa. Fica cada vez mais evidente como essa abordagem está sendo implementada pela elite financeira global, através do chamado ESG (Environmental, Social and Governance), que em português pode ser traduzido como ambiental, social e governança.
Veja como funciona: A Adani Enterprises, uma empresa de mineração indiana, embarcou em um ambicioso projeto de extração de carvão em uma vasta mina localizada em Central Queensland, na Austrália. Para concretizar esse empreendimento, eles contrataram a empresa australiana BMD Group para construir uma nova ferrovia que transportará o carvão extraído até o centro de processamento e venda. À primeira vista, parece ser mais um investimento no qual grupos de investidores desembolsam uma grande quantia de dinheiro com o objetivo de obter lucros substanciais no futuro, com a venda do carvão extraído. No entanto, surge um problema: como em qualquer grande empreendimento de engenharia, a construção da ferrovia requer um seguro. Surpreendentemente, a BMD não conseguiu obter cobertura de seguro de nenhuma das companhias financeiras australianas e internacionais. Não é uma questão de altos custos ou exigências específicas; simplesmente não há interesse dessas empresas em fornecer o seguro. O motivo para isso está relacionado aos princípios do ESG (Environmental, Social and Governance), que muitas das grandes instituições financeiras adotaram ao redor do mundo. Esses princípios surgiram originalmente na ONU e foram adotados por países da Comunidade Europeia, embora não sejam obrigatórios, apenas recomendados.
Em sua essência, esses princípios do ESG não são ruins. É louvável que as empresas incorporem preocupações ambientais em suas operações. Ninguém deseja que as empresas degradem o meio ambiente ou ignorem as consequências sociais de suas atividades. À primeira vista, essa abordagem parece positiva e, além disso, esses princípios estabelecem diretrizes sólidas para a governança corporativa. Queremos empresas bem administradas em todos os aspectos. No entanto, o problema com essas medidas é que elas têm sido implementadas não por meio de leis coercitivas, mas através da influência exercida por poderosos conglomerados financeiros. Essa não é uma decisão natural de mercado, não é resultado das empresas seguindo seus princípios fundamentais, o que naturalmente atrairia investidores e tornaria o negócio atrativo devido à sua rentabilidade, eficiência e capacidade de resolver problemas individuais. Na realidade, trata-se de uma imposição velada por parte de influentes atores políticos. A razão pela qual faço essa afirmação é simples: é parte da natureza do mercado oferecer alternativas. Mesmo que muitas empresas de seguros se recusem a segurar um projeto com base em um critério específico, desde que esse critério não afete seus lucros e estabilidade, outras empresas de seguros teriam grande interesse em atender a essa demanda não atendida, pois isso geraria lucro adicional. O fato de todas as principais seguradoras adotarem exatamente a mesma política para o mesmo lado evidencia problemas sérios de cartelização e/ou influência política e governamental. Isso não seria tão problemático se considerarmos que os princípios de responsabilidade social e ambiental são nobres e éticos, mas a realidade é que esse movimento resulta em ineficiência, e a ineficiência tem um custo. E qualquer custo imposto em uma transação comercial é pago pelo lado mais fraco, ou seja, no final da cadeia produtiva, são os países pobres e em desenvolvimento que sofrem com produtos e insumos mais caros. O pior aspecto desse movimento ESG é o fato de que ele está ganhando força, especialmente entre as empresas financeiras. E aqui reside a grande questão: praticamente toda grande atividade humana necessita de financiamento, pelo menos na forma de seguro, e muitas vezes também requer crédito ou outras formas de financiamento. Se esse pequeno cartel de empresas extremamente ricas decidir estabelecer padrões não convencionais para a economia, eles podem facilmente exercer controle sobre a economia global, ou pelo menos tentar fazê-lo.
Eu concordo que as empresas têm o direito de abraçar os princípios que considerem adequados para si. A liberdade empresarial permite que elas tomem decisões com base em critérios não financeiros, se assim desejarem. No entanto tomar decisões de mercado que vão contra a lógica econômica não é necessariamente positivo, como algumas pessoas podem pensar ou parecer quando abordam o assunto de maneira simplista e emocional.
Isso ocorre porque o cálculo econômico é o que permite o funcionamento eficaz da sociedade, baseando-se nas pessoas buscando o lucro. É preocupante quando alguém acredita ter uma capacidade superior de direcionar investimentos com base em critérios diferentes do lucro. Observar as pessoas tomando decisões individuais não deveria ser um problema, mas quando todo o mercado segue na mesma direção, surge um problema. Essa ideia de basear as decisões em critérios determinados por um agente central representa um risco para o próprio mercado e geralmente resulta em maior ineficiência.
Esse é o dilema do cálculo econômico, pois o sistema de preços é uma ferramenta incrível que possibilita algumas das maiores realizações humanas em nossa era. Hoje, você pode ir até a padaria da esquina e comprar um café da manhã por um preço bastante razoável. Você já parou para pensar em todo o trabalho de várias pessoas envolvidas nisso? Não apenas as pessoas da padaria, mas também aquelas que cultivaram o trigo, o negociador que trouxe o trigo para o Brasil, os envolvidos na moagem e transformação do trigo em farinha, a cooperativa que processou a manteiga, os produtores de leite e café, entre outros. Além disso, há todo o trabalho envolvido na fabricação dos utensílios e na entrega dos produtos. Se alguém tentasse fazer tudo isso funcionar dando ordens diretas às pessoas, simplesmente não existiria o café da manhã na padaria acessível como conhecemos hoje!
Isso é o poder do sistema de preços! Com cada entidade envolvida buscando o lucro, é possível que essa engrenagem maravilhosa funcione.
Mas você pode pensar: “Estão buscando o lucro demais, esse café com pão quentinho é caro, eu não posso me dar a esse luxo e há muitas outras pessoas que também não podem.” Aí está um erro crasso. O que encarece as atividades comerciais de troca, distorcendo os preços além do lucro, são exatamente esse tipo de intervenção, regulações e impostos que geram ineficiência no processo, que ocorrem não por causa do lucro, mas apesar dele. São os governos e, mais recentemente, movimentos de setores altamente influentes politica e economicamente, como o Fórum Econômico Mundial e suas diretrizes ESG, os responsáveis por toda essa ineficiência, que, em última análise, afetará os menos favorecidos economicamente. É paradoxal pensar que quanto mais pessoas buscarem o lucro dentro de um mercado livre, maior será a disponibilidade de produtos com melhor qualidade e preços mais baixos para todos. No livre mercado, a competição impulsiona a eficiência e a inovação, levando à melhoria dos produtos e à redução dos preços. O lucro é um incentivo fundamental nesse processo, pois recompensa o empreendedorismo, o investimento e o desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades e desejos dos consumidores. Portanto, é essencial reconhecer que a busca pelo lucro, dentro de um ambiente de mercado livre e sem intervenções excessivas, é um motor fundamental para a prosperidade econômica e o bem-estar social, gerando produtos e serviços acessíveis a um maior número de pessoas.
Em resposta a tudo isso, tem surgido uma tendência de fundos ANTI-ESG nos Estados Unidos, que está ganhando popularidade rapidamente. Embora possa parecer insensível à primeira vista, essa abordagem é fundamentada na compreensão de que a economia como um todo funciona como uma rede neural complexa, capaz de tomar decisões melhores do que um indivíduo isolado. Os investidores estão percebendo que toda essa ênfase nos princípios ESG não se traduz em lucro, não atende às demandas do mercado e não resolve seus problemas. Portanto, esses princípios não são atraentes e não conquistam a confiança dos investidores que não estão tão preocupados com a pegada de carbono, por exemplo, como Klaus Schwab gostaria que estivessem.
Recentemente, Larry Fink expressou seu descontentamento por estar envolvido nesse debate político sobre ESG. A BlackRock foi uma das primeiras empresas de investimento a aderir a essas iniciativas, e isso tem um impacto significativo no panorama geral. Isso se deve ao fato de que Fink possui uma influência considerável, já que lidera uma quantidade massiva de ativos financeiros no mercado. Se ele decidir instruir sua empresa a adotar a abordagem ESG, ameaçando retirar seus investimentos se não o fizerem, ele tem o poder de pressionar os sócios e diretores a se alinharem com suas ideias.
Essa dinâmica destaca como a influência e o poder de um líder financeiro podem moldar a direção que uma empresa toma em relação aos princípios ESG. A capacidade de tomar decisões estratégicas com base em uma posição de poder financeiro considerável pode ter um impacto significativo nas políticas e práticas adotadas pelas empresas.
A questão é que o mercado possui mecanismos de correção para lidar com esse tipo de problema, e a BlackRock está começando a perceber isso. Rapidamente, várias associações que possuíam fundos investidos na BlackRock perceberam que transferir seus investimentos para outra instituição poderia trazer vantagens. Isso ocorre porque se um fundo visa maximizar o retorno financeiro, buscará obter o maior rendimento possível. Por outro lado, se um fundo prioriza questões ambientais, sociais e de governança (ESG), isso pode resultar em um rendimento menor. Portanto, o mercado automaticamente penaliza aqueles que adotam abordagens contraproducentes.
É importante ressaltar que, quando se trata do próprio dinheiro de alguém, cada indivíduo tem o direito de decidir como investi-lo. Se alguém deseja investir em fundos ESG, é seu direito fazê-lo. O dinheiro é seu e você pode usá-lo como preferir. No entanto, o ponto crucial é que a BlackRock não trabalha apenas com seu próprio dinheiro. A empresa gerencia recursos financeiros de terceiros, incluindo fundos de pensão e outros investidores institucionais.
Essa dinâmica ilustra como o mercado impõe consequências aos agentes financeiros que adotam estratégias que não estão em linha com os interesses e preferências dos investidores. A competição entre instituições financeiras e a liberdade de escolha dos investidores permitem que aqueles que estão insatisfeitos com a abordagem de uma empresa migrem para outras alternativas que melhor atendam às suas necessidades e objetivos financeiros.
Na Flórida, houve um movimento significativo para conscientizar as pessoas, em várias comunidades e associações que investiam em fundos ESG, sobre os possíveis impactos negativos no rendimento financeiro, uma vez que esses fundos podem proporcionar retornos menores do que investimentos em empresas que não adotam esses princípios. Isso levou a BlackRock a enfrentar problemas, uma vez que os investidores começaram a retirar seus investimentos. Nessa situação, Larry Fink se encontra em uma posição complicada, sem saber exatamente como se posicionar. Ele declarou:
Essa afirmação sugere que Fink está preocupado com a politização do tema e que a estratégia ESG pode não estar saindo como planejado. No entanto, posteriormente, ele voltou atrás e afirmou:
Essa mudança de postura evidencia a delicadeza da situação em que Fink se encontra, em meio a críticas e pressões de diferentes frentes. Sua tentativa de esclarecer sua posição reflete a complexidade do debate em torno dos princípios ESG e sua implementação nos negócios.
A preocupação do investidor atento não deve estar necessariamente focada nesses aspectos. É verdade que algumas grandes corporações, ao adotarem essas abordagens coercitivas que quebram os princípios do livre mercado, estão potencialmente se prejudicando a longo prazo. No entanto, é difícil prever quando exatamente isso poderá ocorrer. A questão não está apenas na utilização correta ou incorreta do termo ESG, seja por parte da esquerda ou da direita. Não está claro o que Larry Fink viu de errado nisso.
O problema reside na própria abordagem ESG. Exigir contrapartidas ambientais, sociais e de governança para investimentos, baseadas em políticas de esquerda e tratando as empresas como reféns caso não sigam essa agenda política, é um caminho perigoso. Pois essas políticas não se baseiam em lucro mensal, mas em uma agenda política. No final das contas, é disso que se trata. No momento, pelo menos para pessoas comuns como nós, o envolvimento com as questões ESG é voluntário. As pessoas e as empresas, especialmente as não grandes corporações, podem seguir ou não essas abordagens se assim desejarem.
E qual é o resultado? O mercado se corrige. Existem inúmeros casos de empresas que tentaram abordagens revolucionárias e acabaram falhando completamente. Parece que a BlackRock está seguindo o mesmo caminho, não é? Devemos lembrar que até o Império Romano chegou ao seu fim. É um alerta para a BlackRock de que nenhum império é imune a possíveis falhas e consequências de suas estratégias.
EDUARDO ALVIM É UM ENTUSIASTA DA ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA, QUE VALORIZA A LIBERDADE INDIVIDUAL, O LIVRE MERCADO E A NÃO INTERVENÇÃO ESTATAL NA ECONOMIA. ACREDITA QUE O BITCOIN É UM IMPERATIVO MORAL, POIS A AUTO CUSTODIA IMPEDE O FINANCIAMENTO DE GUERRAS, CONFLITOS E IMORALIDADES SEM O LIVRE CONSENTIMENTO DAS PESSOAS.