A aversão ao risco ainda é forte entre os agentes financeiros, baseada no receio de novas altas nas taxas de juros americanas. Bolsa: mercado está cauteloso com ativos de risco, por isso aposta em setores defensivos (Patricia Monteiro/Bloomberg)
A piora no cenário internacional, que engloba a possibilidade de novas altas nos juros americanos, e o fraco crescimento econômico da China e da Europa, deixaram o mercado brasileiro em alerta para o quarto trimestre do ano. O último período, inclusive, já chega com o dólar a mais de R$ 5 e o Ibovespa abaixo dos 117 mil pontos.
“Estamos com visão entre neutra e levemente pessimista para o quarto trimestre do Ibovespa. No cenário local, o tom mais duro do Comitê de Política Monetária (Copom) após a última reunião, somado à piora do cenário fiscal (queda na arrecadação e aumento dos gastos, segundos os últimos dados) corrobora com a visão desafiadora para as ações brasileiras no curto prazo”, afirma Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed.
Como estratégia dentro dos investimentos de risco, Petrokas conta à EXAME Invest que prefere permanecer posicionado em empresas de setores mais defensivos, como petróleo, bancos e exportadoras. Para o especialista, o Ibovespa não deve ultrapassar os 120 mil pontos até o final de 2023.
Luís Moran, head da EQI Research, tem uma visão mais otimista para o principal índice da B3. Ele afirma que as ações brasileiras parecem baratas, mas apenas se as incertezas no ambiente externo diminuírem. Neste cenário, ele acredita que é possível ver uma normalização dos preços, com os múltiplos voltando para patamares próximos (mas ainda abaixo) da média histórica. Dessa maneira, o Ibovespa poderia rapidamente ir para 135/140 mil pontos e fechar o ano em 120 mil pontos.
“Nossa perspectiva é moderadamente otimista. Acreditamos que o cenário mais provável é que, passada a pressão de emissão do Tesouro dos EUA, podemos ver os juros longos cedendo e melhora em todo o mercado”, comenta.
Segundo Moran, como aposta, a EQI também visualiza petroleiras e exportadoras com bons olhos, mas acrescenta o varejo, tanto de alimento, como de moda voltado para alta renda. “Apesar de um cenário de curto prazo complicado para as varejistas, seguimos otimistas com o setor principalmente no médio e longo prazo. Acreditamos que têm ativos descontados com boas teses de investimentos à disposição dos investidores”, afirma.
De olho no petróleo
A escolha para o setor de petróleo não foi por acaso. No terceiro trimestre de 2023, Prio (PRIO3), Petrobras (PETR3; PETR4) e PetroRecôncavo (RECV3) figuraram entre as 10 maiores altas do Ibovespa, com Prio liderando o ranking, em uma alta de 26,86% no período, segundo um levantamento da Quantzed. “O setor de petróleo no terceiro trimestre acompanhou a escalada dos preços da commodity no mercado internacional. O petróleo WTI abriu o mês de julho cotado a US$ 80 por barril e terminou setembro cotado a US$ 87”, diz Petrokas.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, corretora do BTG (mesmo grupo controlador da EXAME), e Moran, da EQI, concordam com a visão sobre a commodity. Para eles, a alta do preço do barril irá perdurar, devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda que também deve seguir durante um tempo. Uma das causas, inclusive, são as recentes restrições de exportação do diesel pela Rússia.
As três casas recomendam o papel PRIO3, com a Quantzed mirando um preço-alvo de R$ 60 para final de 2024, um upside de 37,26% em relação ao preço de R$ 43,71 do fechamento desta quinta-feira, 5. Como explica Moran, a companhia é uma alternativa de investimento em empresas de petróleo com grande potencial de crescimento e sem incorrer em riscos de governança estatal e exposição a refino. Além dela, a EQI também acrescenta nas apostas a 3R Petroleum (RRRP3).
Exportadoras
Suzano (SUZB3), que foi a segunda maior valorização do terceiro trimestre, com uma alta de 22,75%, é uma das apostas da Quantzed. Como explica Petrokas, a companhia teve uma boa performance acompanhando o desempenho da celulose no mercado internacional. “O índice PAP (Pulp and Paper), da bolsa japonesa, subiu 16,2% entre 3 de julho de 2023 e 29 de setembro. Outro fator que contribuiu para o bom desempenho das ações foi a alta do dólar”, comenta.
No rol das exportadoras, Minerva (BEEF3) aparece como a recomendação da EQI para quem “tem um horizonte um pouco mais longo”. Segundo Moran, apesar de ser o frigorífico com o mix de produtos menos diversificado, a casa vê BEEF3 como melhor posicionado para se beneficiar da virada do ciclo do gado na América do Sul, com custos de aquisição de boi gordo mais baixos e melhores volumes de exportação.
Varejo
Já para o varejo, a Órama e a EQI apostam em dois subsetores: o varejo de alimentos e o de alta renda. “Nossas preferências para o varejo de alta renda são Vivara (VIVA3) e Arezzo (ARZZ3), dois nomes que gostamos bastante, temos no fundo e nas carteiras recomendadas”, destaca Soares.
Em concordância com a visão da Órama, Moran acrescenta que nomes expostos aos segmentos de alta renda são menos sensíveis às questões de renda e crédito do consumidor. “A exposição atual da Arezzo ao mercado de calçados e seus primeiros passos em vestuário voltados à classe média-alta a capacita, de certa forma, a se esquivar dos desafios de inadimplência alta e dificuldade de expansão enfrentados por outros competidores”, explica.
Para o varejo de alimentos, Assaí (ASAI3) é o nome de ambas as casas. De acordo com os especialistas, as varejistas de alimentos, por serem muito alavancadas, irão se beneficiar da queda de juros. “Apesar da queda dos preços dos alimentos impactar diretamente a geração de receita do setor, já começamos a ver também uma recuperação de volumes acontecendo. Em agosto, por exemplo, a venda de itens de supermercados cresceu mais de 4% na comparação anual”, destaca Moran.